Nomeado pelo papa Francisco em 12 de novembro de 2014, foi sagrado bispo neste sábado 17 de janeiro em Jequié - BA, em frente a Catedral Santo Antonio.
Sagrante: Dom José Ruy, OFMcap
Co-sagrantes: Dom Fernando Saburido
Dom Cristiano Krapf.
Dom Cristiano Krapf.
Lema: O amor vence tudo
Homilia da do Sagrante Dom José Ruy, OFMcap
Aos co-sagrantes desta ordenação episcopal, Dom Antônio Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife e o bispo emérito desta diocese, Dom Cristiano Krapf. Aos Irmãos Bispos deste Regional Nordeste III, na pessoa do nosso Metropolita, confrade e amigo, Dom Luiz Pepeu, dos Irmãos Bispos do Nordeste II que acolhe o ordenando.
Saudando o Vigário Geral de nossa Diocese de Jequié, Mons. Haroldo Coêlho; nos presbíteros assistentes do ordenando, Mons. Luiz Rodrigues e Pe. Dourival Miranda, saúdo os demais sacerdotes que concelebram esta divina liturgia, incluindo também os diáconos, seminaristas e religiosas.
Amado Povo de Deus,
O Evangelho Jo 15,9-17 proclamado no qual o Mestre nos ensina a PERMANECER é a grande lição de hoje num mundo marcado pela fugacidade, um tempo sublinhado por relações descartáveis. São poucos aqueles que pensam e planejam o eterno, o definitivamente duradouro.
É uma passagem que pertence ao conjunto de discursos de despedida de Jesus em que Ele pede aos discípulos, além da permanência na fé, também exige a permanência no amor.
Para isto Jesus se faz protótipo e modelo do amor. “Ele permanece no amor do Pai” (Jo 15,10) e “dá a vida por seus amigos” (15,13).
Como se baseia no amor de Deus, é, e sempre será pura Graça.
“O mandamento do amor não é para covardes e tímidos, mas sua suavidade vive da temeridade dos mártires, semelhante à virgindade cuja dignidade se baseia na audácia intrépida que é maior que a dos guerreiros”. (Santo Ambrósio, De Virg.)
É através do mandamento do amor que se decide conversão ou apostasia.
Ainda neste trecho do Evangelho segundo João, podemos nos interrogar que sendo o amor a essência de Deus e o sentimento mais nobre do ser humano, possa ser tornar uma obrigação, um mandamento?
Lembro-me de uma passagem de um dos livros de saudoso Alceu Amoroso Lima, conhecido e amado filósofo católico no Brasil, em que o mesmo emitia uma crítica a Sheakespeare, quando colocava na boca de Hamlet, a questão: “ser ou não ser”. O Prof. Alceu afirmava que esta não é a questão existencial do ser humano, pois nós já existimos, somos. A questão, segundo ele, é exatamente esta: “amar ou não amar”.
Isto posto, ao saudar o Mons. Antônio Tourinho, congratulo-me com o mesmo na escolha de seu lema episcopal: “o amor tudo vence”.
Parafraseando, Kiekegaard, podemos dizer: “o homem que ama de verdade, quer amar para sempre. O amor precisa ter como horizonte a eternidade, caso contrário é apenas um passatempo”.
Quem ama é bem feliz não somente em poder amar, mas em dever amar. Este é o mandamento mais bonito e mais libertador do mundo.
O saudoso Cardeal Martini, uma vez arcebispo de Milão, escreveu pouco antes de falecer um livro intitulado, “ O Bispo”. Neste opúsculo, o saudoso purpurado dizia que “o bispo é colocado num candelabro para iluminar a todos” . Foi assim que compreendi que tantas vezes não sou apenas a sétima vela colocada sobre o altar nas celebrações festivas ou solenes, mas devemos ser a sétima vela colocada diariamente na vida das pessoas.
Segundo as palavras do Pontifical Romano para esta divina liturgia, “No Bispo com seus presbíteros está presente entre vós o próprio Jesus Cristo, Senhor e Pontífice eterno. Pelo ministério do Bispo, é Cristo que continua a proclamar o Evangelho e a distribuir aos que creem os sacramentos da fé. Pela solicitude paternal do Bispo, é Cristo que incorpora novos membros à Igreja. Pela sabedoria e prudência do Bispo, é Cristo que vos conduz nesta peregrinação terrena, até a felicidade eterna”.
Certamente, Mons. Antônio, durante o seu retiro em preparação a este momento profundo, ao meditar a Regra Pastoral de São Gregório Magno, chegaram ao seu coração estas inesquecíveis palavras que, um homônimo deste santo,Dom Magnus, me advertia a nunca esquecer: “ que o bispo não aspire a algum sucesso da vida presente, nem tema adversidade alguma, menospreze as adulações deste mundo, considerando o que no íntimo causa temor, e, ao mesmo tempo, não despreze o temor...No sucesso, não se ensoberbeça, não se abata na adversidade; nenhuma adulação o seduza a ponto de fazê-lo buscar o prazer; a severidade das dificuldades não o desencorajem. Que paixão alguma atenue o vigor do seu espírito e que, assim, ele possa mostrar toda beleza do véu umeral que recobre seus ombros...”
Ainda assim, meu Irmão, evocando mais uma vez as palavras do Pontifical: “Prega a Palavra, quer agrade, quer desagrade”.
A experiência de São Basílio nos deixa em um de seus ensinamentos, incorporados à teologia do episcopado, que “o Bispo preside em lugar do Pai”.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium 20, afirma: “Os bispos por instituição divina sucedem o lugar dos apóstolos como pastores da Igreja, e quem os escuta, escuta a Cristo, quem os despreza, despreza o Cristo e aquele que o enviou”.
Aos 12 de novembro do ano passado, Deus lhe confiou a missão de pastorear sua Igreja, como bispo auxiliar da secular Arquidiocese de Olinda e Recife. Hoje, na sua missão de Pastor, reze para ter sempre presente, no seu múnus, o espírito do serviço, a exemplo do que nos recomendava o saudoso São João Paulo II, quando afirma: “Tendo sempre diante dos meus olhos o exemplo do Bom Pastor que veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida pelas ovelhas… então, o sentido do ministério do próprio ser de quem, como os doze, é chamado a entrar na maior intimidade com Jesus, só pode consistir numa disponibilidade total e sem condições aos outros, quer já pertençam ao aprisco, quer ainda não” (Pastores Gregis n.42).
Na sociedade secularizada em que vivemos, não há lugar para Cristo. Ele não é mais o centro de nossa vida, de nossa família e, muitas vezes, nem mesmo de nossa espiritualidade. Consequência disso, é o crescente secularismo e o indiferentismo generalizado com que temos nos defrontado.
Meu querido irmão, você terá muito o que ensinar, e, certamente, muito a apreender, pois espraia-se aos seus pés de pastor uma vasta área que mais parece com a missão assumida por Santo Antônio de Pádua quando desejou ir ao Oriente. A Arquidiocese de Olinda e Recife, que também possui Santo Antônio como Patrono é imensa em sua história e mais ainda em seus desafios. Ali o nosso confrade Dom Vital, entregou literalmente a sua vida e Dom Hélder Câmara atualizou. Deus nos inspire, como Igreja, a jamais esquecer que os leprosos de outrora continuam ainda perambulando pelas ruas de nossas cidades na figura dos excluídos, a fim de que, como cristãos, contribuamos para sua reinserção de maneira digna na comunidade! E como fizeste isso tão bem, caríssimo. Seja com os dependentes químicos, seja com os andarilhos.
Lembre-se sempre, dileto irmão: não pregamos para nós mesmos, as nossas ideologias, mas a de Jesus Cristo e seu Evangelho, da sua Igreja, única e verdadeira na qual entregamos nossas vidas por uma profissão de fé. Jamais esqueçamos de que somos depositários e não proprietários da Palavra de Deus. Por esta razão, devemos estar a serviço desta Palavra com total fidelidade e disponibilidade.
Nunca deixe que o vosso ministério de pastor fique à mercê das fantasias, das ideologias e dos interesses dos homens, dos modismos teológicos que surgem de pessoas, mesmo que no interno da Igreja...
Não somos donos desse ministério, deveremos apascentar segundo o coração de Jesus. É ele que nos orienta. Ele que nos dá a força e a coragem para a labuta diária. Sem a vida de oração, sem a Eucaristia, sem o diálogo, nada podemos e nada somos. Se assim nos tornarmos, fatalmente conduziremos nosso rebanho para os precipícios da pós-modernidade.
Deixe que Deus seja Deus. Não tome o lugar do Supremo Pastor que é Jesus Cristo, mas sonhe, pense, sinta e aja como se em lugar de Cristo.
O Papa Francisco lhe confiou, Padre Tom, a missão de ajudar Dom Fernando Saburido a dar continuidade aos trabalhos da Arquidiocese de Olinda e Recife, uma Igreja reunida em torno do Bispo e seu Presbitério. Mais uma vez o mistério da Igreja se realiza e o corpo de Cristo ganha expressão concreta.
A comunhão é a espinha dorsal de todo o ser Igreja. Uma comunhão que se fundamenta na comunhão trinitária. Padre e bispo devem estar ligados intimamente à Santíssima Trindade. Sem comungar com a Santíssima Trindade não poderão comungar entre si e serão incapazes de gerar comunhão. Esta unidade, esta comunhão, tem como princípio e fundamento visível, o bispo, juntamente com o seu presbitério. O bispo é investido da plenitude do sacramento da Ordem. É a partir desta plenitude que se tece a comunhão eclesial. Somente neste sentido se pode dizer: Ubi Episcopus, ibi Ecclesia! (Onde está o bispo está a Igreja).
Esta missão episcopal traz consigo a responsabilidade de ser mestre da doutrina, sacerdote do culto e ministro do governo. Não esqueças, de que todas as responsabilidades devem ser norteadas pelo cajado do Bom Pastor que dá a vida por seu rebanho. Seja sempre um bispo sinal visível de unidade e comunhão da Igreja. Assim como vez tão bem o fez por estas plagas. Quero recordar, permita-me Padre Tom, sua profissão de fé e seu juramento de fidelidade, quando lhe confiei ser o meu Vigário Geral nesta querida Diocese de Jequié. Ali, na humilde capela de Santa Terezinha na sua ex-paróquia do Km 100, ao final da Santa Missa, o senhor declarava solenemente seu pacto de comunhão e unidade com o seu bispo e as suas orações diárias em meu favor. Dom Fernando, é este o bispo auxiliar que o senhor e sua Arquidiocese ganham neste momento.
Um sacerdote que ao chegar do seus estudos em Direito Canônico no Rio de Janeiro, foi destinado a uma pequena e recém criada paróquia do interior, onde se deslocava, de batina, na carona de uma ambulância para atender suas comunidades rurais. Padre Tom em Aiquara, Padre Tom da Catedral, Padre Tom do Km 100, Pe. Tom da Fazenda da Esperança.
Jamais esquecerei no coração e nunca se apagará em minha mente, quando fomos, em companhia de Pe. Washington, a uma rádio local anunciar a sua nomeação episcopal. Entre tantos ouvintes, muito júbilo. Mas, o primeiro que apareceu para lhe abraçar foi aquele que primeiro recebeu a graça da cura no tratamento contra a dependência das drogas.
Que o bom Deus lhe conceda sabedoria, caridade e firmeza necessárias para pastorear, tendo a alma repleta de sentimentos de ternura e afeto no agir de pastor, impulsionado pela fidelidade, coragem e disponibilidade de Nossa Senhora.
fonte Diocese de Jequié.
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